sexta-feira, maio 21, 2010

Ronnie James Dio: A Voz Eterna do Rock n' Roll

O tempo é um mecanismo complicado e curioso. Nele, diversas obras se desdobram no espaço, e com ele alcançamos aquilo que denominamos de "experiência", que é tão cara para nós, servindo-nos de esteio para o nosso amadurecimento. Mas, ao mesmo tempo em que ele, o tempo, nos possibilita alcançar e conhecer tantas coisas, também não faz distinção sobre o que ou quem irá sentir os seus efeitos: com esse mesmo tempo que tanto aprendemos, nós também perecemos gradativamente, pouco a pouco, dia a dia. E assim, assistimos aos a derrota dos ídolos que julgávamos eternos para o tempo. É como se suas estátuas, antes talhadas em rijas pedras, se tornassem areia em um curto lastro temporal e, empurrados pelo vento, fossem levados a todos os cantos do nosso mundo.

Em 16 de maio de 2010, perdemos mais um ídolo que, antes, julgávamos imortal: Ronnie James Dio. E, em parte, os pressupostos anteriores são verdadeiros: podemos ter perdido Dio para o tempo, mas jamais perderemos a sua obra e a sua voz.

Desde meados da década de 60, quando Dio começou a delinear o projeto musical que culminaria com o primeiro e homônimo disco dos ELF, em 1972, ficou claro que seu nome ficaria para sempre insculpido na história da música. Com os ELF, Dio flertou com o rock n' roll e com as primeiras fusões de tal ritmo com o jazz, elementos que foram aprimorados com o passar do tempo (sempre ele) e foram devidamente registados em "Carolina County Ball", de 1974, e o excelente "Trying to Burn the Sun", de 1975. Com o ELF, Dio começou a mostrar sua voz e sua força para mundo, e mudou o curso da vida de algumas pessoas, como a de um pequeno miudo de 11 anos, durante um concerto de abertura para os Deep Purple na Dinamarca, que, após a apresentação dos ELF, teve certeza que queria viver de música. No dia 16/05, 35 anos após esse concerto na Dinamarca, ao saber da morte de seu ídolo, o hoje senhor Lars Ulrich chorou como se tivesse os mesmos 11 anos de idade, quando conheceu Dio.

Foi desta mesma turnê que se engendrou, para Ritchie Blackmore, a certeza de que Dio seria seu auxiliar na concretização do mito que hoje os RAINBOW representam, e que cresce cada vez mais com o tempo: todos os dias, seja através da fase da banda com Joe Lynn Turner ou da própria obra de Dio, os RAINBOW ganham novos ouvintes e seguidores. Afinal, foi com os RAINBOW que Ronnie James Dio bradou aos quatro cantos do mundo a mensagem que, mesmo breve, sintetiza o sentimento de todos que nos rendemos ao rock como uma forma de pensar, agir e viver: "Long Live Rock n' Roll", hino eternizado na voz de Dio, é a prova da perenidade deste estilo e de todos aqueles que se cobrem com seu manto.

Dos RAINBOW, Dio seguiu em frente para manter viva a lenda dos Black Sabbath, que após os desgastes havidos com Ozzy Osbourne, precisava ser lançado novamente ao Sol. Com o Sabbath, Dio lapidou as pérolas inquebrantáveis "Heaven and Hell" (1980), "Mob Rules" (1981) e o polêmico "Live Evil" (1982), que decretou sua saída do grupo, retornando apenas em 1992 para gravar e brindar o público com "Dehumanizer". Durante a mesma década de 80, Dio deu início a construção de seu trabalho solo, firmando-se definitivamente como ícone e referência insofismável do hard rock e do heavy metal.

É importante ter em mente o trajeto percorrido por Dio, justamente para concretizar sua importância para a música e para o público que, há mais de três décadas, o segue incessantemene. Com sua triste passagem no último domingo, percebemos a constatação de um triste fato: tem-se chegado o momento de dizermos adeus aos nossos ídolos, àqueles que nos motivaram a estudar e a entrar cada vez mais no mundo do rock n' roll. E, talvez pior do que isso: constatamos também que, a cada dia, diminuem os possíveis candidatos a suceder (sem nunca tomar o lugar) nomes como o de Dio. É como se caminhássemos ao vazio: nada de novo e interessante se constrói hoje. Vivemos em um eterno culto à memória e ao passado, buscandos através do tempo a força daqueles que já fizeram a história e, ainda hoje, continuam a significar muito à nós.

Por essas razões, quando pensamos em Ronnie James Dio, não podemos desvinculá-lo do tempo. Foi através dele que marcou-se o seu nome na história de todos nós que, no dia de hoje, baixamos os olhos mareados pela tristeza de perder uma referência. Dio não foi apenas uma das mais poderosas vozes do rock, foi, acima de tudo, um sujeito amplamente carismático que muito nos ensinou, desde o símbolo máximo do "chifre" com as mãos, até a perseverança de perseguir seus sonhos. Apesar de Dio ter perdido a batalha contra o tempo e contra a doença que o aplacou, é nosso dever utilizar um desses inimigos - o tempo - como ferramenta inquebrantável para perpetrar na memória de todos a importância da obra deste incrível artista, que tanto fez pela música de modo geral. A consternação de um mundo todo é prova desta missão: façamos a voz de Dio ecoar em todo o tempo, para sempre.

Siga em paz velho mestre! Agora é nossa vez de cantarmos por ti!

In Rock Pensante

terça-feira, maio 18, 2010

Templo do Rock - RUA: Rádio Universitária do Algarve - Play List [2010/05/15 & 2010/05/19]:

Judas Priest

. JUDAS PRIEST - "Painkiller" [Painkiller]
. ACCEPT - "Flash Rocking Man" [Staying A Life]
. LOUDNESS - "Crazy Nights" [8186 Live]
. DIAMOND HEAD - "Helpless" [Lightning To The Nations]
. ANGEL WITCH - "Angel Of Death" [Angel Witch]
. JAGUAR - "Prisoner" [Power Games]
. TYGERS OF PAN TANG - "Hellbound" [Speelbound]
. IRON MAIDEN - "22 Acacia Avenue" [The Number Of The Beast]
. PICTURE - "Let Me Rock N Roll" [Diamond Dreamer]
. STORMWITCH - "Stronger Than Heaven" [Stronger Than Heaven]
. VIRGIN STEELE - "Ring Of Fire" [The House Of Atreus Act1]
. W.A.S.P. - "Chansaw Charlie" [The Crimson Idol]
. RUNNING WILD - "The Rivalry" [The Rivalry]
. KING DIAMOND - "24 Hours Ago" [Fatal Portrait]
. OBSESSION - "Metheods Of Madness" [Metheods Of Madness]
. METAL CHURCH - "Watch The Children Play" [The Dark]
. ARMORED SAINT - "Chemichal Euphoria" [Raising Fear]
. CANDLEMASS - "Where The Runes Still Speak" [Chapter VI]
. ANNIHILATOR - "Alison Hell" [Alice In Hell]

segunda-feira, maio 17, 2010

Ronnie James Dio R.I.P [1942-2010] Morre uma das melhores vozes e pessoas de sempre


Que bom seria se os heróis do mundo real fossem como alguns heróis da ficção, aptos a se livrar de todos os perigos, superar todo e qualquer desafio ou até mesmo carregar consigo o dom da imortalidade. No entanto, se não fomos criados com a capacidade de viver aqui eternamente, é provável que exista um motivo maior, o qual não somos capazes de entender, para que as coisas sejam assim. Pensando bem, talvez o melhor seja que nossos heróis da realidade não tenham os mesmos superpoderes das personagens do faz-de-conta, pois apesar de esses últimos nos divertirem com suas histórias, somente aqueles primeiros e seu legado é que são realmente capazes de nos marcar e influir de fato em algo de nossas vidas.
O mundo do heavy metal teve a triste notícia do falecimento de um de seus mais notáveis representantes, o americano Ronald James Padavona, que ficou famoso no mundo inteiro sob a alcunha de Ronnie James Dio. Desde muito cedo, Dio já mostrava um gigantesco talento, iniciado na banda Vegas Kings, formada por ele e alguns colegas de escola. O grupo trocou de nome inúmeras vezes. Ronnie and the Rumbles, Ronnie and the Redcaps, Ronnie Dio and the Prophets, The Eletric Elves, The Elves, até chegar à sua primeira banda a se tornar realmente famosa, o ELF. Sua voz e estilo sempre chamaram a atenção de grandes músicos do meio, sendo que dois dos maiores guitar heroes do rock fizeram questão de contar com a colaboração do cantor. Primeiro foi Ritchie Blackmore, que convocou Dio para o posto de vocalista do RAINBOW em meados dos anos 70. Ali, Ronnie gravou quatro álbuns, onde se pode constatar com enorme facilidade que se tratava de uma das pessoas mais capacitadas em todo o planeta para exercer a função de vocalista de uma banda de rock.

Após sua saída do RAINBOW, foi outro gênio da música, conhecido como Tony Iommi, que enxergou em Dio o substituto ideal para Ozzy Osbourne no posto de vocalista do Black Sabbath, ainda que tivesse características absolutamente diferentes de seu antecessor. De sua primeira passagem pela banda ficaram como legado dois dos maiores e mais influentes clássicos da história do metal, os discos “Heaven and Hell” e “Mob Rules”, além do excelente registro ao vivo “Live Evil” que, aliás, seria o ponto crucial que motivou sua saída da banda. Contudo, a passagem de Dio pelo Sabbath o credenciou como figura emblemática e essencial do heavy metal, colocando-o na posição de um dos ícones do estilo. Não só sua capacidade, técnica, alcance e interpretação marcaram gerações, como também sua atitude nos shows. Mesmo não sendo seu criador, foi Dio quem popularizou um gesto que se tornaria talvez a maior marca registrada do metal, o famoso sinal dos chifres com a mão, algo hoje indispensável em qualquer apresentação de heavy em qualquer lugar do mundo e que se confunde com a própria essência deste gênero musical.

Quando resolveu partir para a carreira solo, Dio presenteou os fãs com mais alguns dos grandes clássicos do metal oitentista, como “Holy Diver” e “The Last In Line”, discos obrigatórios em um bom acervo de obras de rock pesado. Construiu uma sólida carreira até retornar ao Sabbath no início dos anos 90, quando gravou com a banda o ótimo álbum “Dehumanizer”, outro petardo que agradou e muito seus fãs e os de sua fase no Black Sabbath, de onde sairia mais uma vez e retornaria aos trabalhos solo. Em 2007, uma nova reunião com os antigos companheiros e uma turnê comemorativa e, ao mesmo tempo, de divulgação de uma coletânea que englobava seu trabalho junto à banda. Sob o nome de HEAVEN AND HELL, excursionaram por vários países e a aceitação a essa novo encontro da banda foi tamanha que levou aos membros considerarem continuar com o projeto, que inicialmente era previsto para durar apenas aquela turnê. Daí, sairia um novo trabalho de estúdio, intitulado “The Devil You Know”, que ficará eternizado na história como a última obra da prolixa carreira do cantor.

Sua trajetória foi marcada por algumas polêmicas, brigas e reconciliações. No entanto, a essa altura do campeonato, nem é necessário recontar em detalhes a história de Dio, pois ela já é amplamente conhecida por todos aqueles que se consideram amantes do metal. É e será muito difícil encontrar qualquer headbanger que não tenha batido cabeça, tocado aquela guitarrinha imaginária ou empunhado algo que simulasse um microfone ao som de alguma música do cantor. Quem, sobretudo aqueles que presenciaram a cena rockeira nos anos 80, que nunca se deixou transportar para o universo de dragões, elfos e fadas tão bem contados, cantados e interpretados por Ronnie? Quantas vezes já não nos reunimos com nossos colegas e viajamos com o som do baixinho, ao mesmo tempo em que examinávamos quase que em transe os encartes e letras dos álbuns? Quem nunca tentou acompanhar seu vocal em determinada canção para logo perceber que a tentativa era em vão? Quem nunca se impressionou com a altura, com o timbre, com a afinação da voz daquele homem, diminuto em sua estrutura física, mas que se transfigurava num gigante quando colocava os pés em um palco? Um cantor com vocal tão contundente que dispensava até mesmo a necessidade de se esgoelar para poder impressionar. Um cantor que sabia ser suave quando a canção assim pedia, que era melódico quando fosse preciso e que era agressivo quando a música fazia disso algo necessário.

Não há no ambiente do heavy metal, mesmo entre aqueles que não gostem de seu trabalho, quem ache absurdo colocar o mestre no mínimo entre os 3 maiores vocais que o estilo já conheceu. É natural do ser humano engrandecer, endeusar, cobrir de glórias a trajetória de alguém que foi marcante e famoso quando esta pessoa morre. No entanto, no caso de Dio, o mesmo foi digno e testemunha de todos os aplausos, elogios, menções e manifestações de idolatria ainda em vida. O metal deixou de ter uma de suas mais talentosas e emblemática figuras, mas deixou de ter apenas em corpo presente, pois Dio continuará sendo e sempre será uma daquelas pessoas cuja imagem e obra se confundem com a do próprio rock pesado.

Refletindo sobre o que está escrito no início deste texto, a verdade é que, à sua maneira, alguns de nossos heróis do mundo real também têm seus superpoderes, alguns até o dom da imortalidade. Têm o poder de compor e gravar obras que, às vezes nem percebemos direito, mas marcam nossa memória e, por conseguinte, nossa vida. Mesmo sem estarem presentes ali, têm o poder de estar ao nosso lado durante horas e mais horas dentro de nossas casas, nossas salas, quartos, dentro de nossos carros, nos bares que frequentamos, e isso por anos e anos. Têm o poder de nos conceder momentos de alegria ao brindar-nos com sua genialidade. E têm o poder de se tornarem imortais, se não em seus corpos mas por meio de seus legados. Este é Ronnie James Dio. Parafraseando alguns internautas que deixaram suas mensagens neste site e em outros locais da internet, realmente muito mais importante do que dizer ‘que pena’ ou ‘adeus’ é dizer ‘obrigado, Dio, valeu por tudo’.

Por Ronaldo Costa, In Whiplash [Brasil]