Por:
Liliana Nascimento
Já tive muitas surpresas na vida e há quase 20 anos que sonhava com a vinda dos Danger Danger a Portugal. Admito, a bem da verdade, que são a minha banda preferida desde que saiu o álbum de estreia em 1989 e que já os tinha visto três vezes no estrangeiro (em festivais e na cave de um bar em Camden Town por onde, estranhamente, passam nomes grandes da cena internacional). A notícia da vinda deles cá pela primeira vez deixou-me delirante e, ao mesmo tempo, com o desejo ansioso de que tivessem uma recepção à altura e a oportunidade de conhecerem o nosso país. Infantil, eu sei, mas esta coisa de ser fã deixa-nos meio tresloucados e até um pouco melgas. O pessoal que passou mais de uma hora na fila para pedir autógrafos, tirar fotografias e perguntar vezes sem conta quando é que eles cá voltam e se estavam a gostar da comida e das praias nacionais é obrigado a concordar comigo.
Por tudo isto, a noite de 2 de Julho foi memorável e deixou-me (deixou-nos a todos, acho eu), com o ego orgulhosamente reconfortado. No início, falava de surpresas porque, por mais voltas que tivesse dado à imaginação, o Salão Preto e Prata do Casino do Estoril não estava, definitivamente, na minha lista de locais previstos para um concerto de Danger Danger. A mesma supresa estava espelhada na cara do staff do Casino que, ao longo da noite, viu um público diferente do habitual deambular pelo recinto. Mas a noite não foi de estereótipos e muitas centenas de pessoas de todas as idades, classes e proveniências (com fãs de todos os cantos da Europa e até do Japão a deslocarem-se a Portugal para uma das raras actuações dos Danger Danger este ano) partilharam uma noite bonita, que provou que a paixão pelo rock é mais transversal do que parece.
Apesar do álbum mais recente dos Danger Danger, “Revolve”, ser de 2010, o facto de se tratar da primeira visita da banda a Portugal justificou a aposta nos clássicos, cantados irrepreensivelmente pela multidão, para grande espanto meu, que sempre me senti um bocadinho solitária nesta devoção pelos D2.
E se o público se rendeu à banda de Ted Poley (voz), Bruno Ravel (baixo), Steve West (bateria) e Rob Marcello (guitarra), o inverso também é verdade. Com mais de vinte anos no activo e visitas constantes à Europa, a banda de Nova Iorque teria, certamente, algumas dúvidas sobre como seria recebida por cá, mas a recepção quebrou as dúvidas. A banda acabou por filmar o concerto e o vocalista chegou a descer para o meio do público para atravessar a sala enquanto cantava I Still Think About You.
Juras de amor eterno em palco por parte dos artistas são comuns em todo o lado e dou-lhes sempre o devido desconto, mas neste caso, as experiências anteriores com a banda e o facto de alguns elementos terem adiado o regresso aos Estados Unidos em pleno fim-de-semana do Dia da Independência para mais uns dias entre nós confirmam a sinceridade dos «Unbelievable, Cascais!».
Beat the Bullet, Bang Bang, Rock America, When She’s Good She’s Good (When She’s Bad, She’s Better), Under the Gun e Monkey Business desfilaram depressa demais, com a noite a escoar-se rapidamente. A power balad Don’t Walk Away é um dos temas dos Danger Danger mais conhecidos em Portugal e, apesar de não fazer parte do alinhamento habitual da banda, teve lugar de destaque. Curiosamente, do novo álbum, apenas houve oportunidade de ouvir Keep on Keepin’ on, claramente insuficiente para quem estava ansioso para ver como funcionam ao vivo temas como Rocket to Your Heart ou Fugitive. Fica para a próxima.
No encore, a linha de baixo entoada pelo chefe Ravel deixou claro que o encerramento estava a cargo deNaughty Naughty, o primeiro grande sucesso da banda, em 1989.
O concerto acabou mas a noite ainda mal tinha começado. Os Danger Danger deslocaram-se a Portugal como convidados especiais da Festa Rock em Stock, uma homenagem ao mítico programa de Luís Filipe Barros na Rádio Comercial que, com início em 1979 e ao longo de muitos anos, introduziu por cá alguns dos grandes nomes da década de 80. O radialista animou a noite com uma colectânea de temas indispensáveis do universo rock, desde Russ Ballard, Brian Spence, U2 e Bauhaus, até nomes mais hard como Def Leppard, Bon Jovi, Van Halen ou Alice Cooper, passando por Metallica ou Nirvana. Terminado o longo meet & greet com os fãs, os Danger Danger regressaram à sala, acompanharam Luís Filipe Barros no palco e desceram mesmo à pista de dança. Memorável.
Se dúvidas havia, estão desfeitas. Há público para hard rock em Portugal. Cheap Trick, D-A-D, FM, Danger Danger e o calendário festivo ainda mal começou. Ainda no Verão, Judas Priest, Queensrÿche, Bon Jovi, Scorpions, Europe, e no Outono, Mr. Big e House of Lords, só para nomear alguns. Há festivais na Europa em cidades desinteressantes que atraem, anualmente, milhares de fãs de todo o mundo que investem numa oportunidade de ver as suas bandas favoritas, muitas vezes, em salas sem condições. Ultimamente, muitas reuniões de bandas dos anos 80 e 90 têm acontecido a partir de pedidos e expectativas geradas por esses festivais, que demonstram que o fenómeno está vivo e que este género tem alguns dos fãs mais fiéis do mundo. Em Portugal, proliferam festivais de todos os tipos possíveis e imagináveis de música, promovidos de norte a sul do país, das grande cidades ao interior. Será muito pedir um festival de hard rock em Portugal? Acho que está mais do que provado que merecemos.
Sem comentários:
Enviar um comentário