Quem gosta de heavy metal e de abanar a cabeça como se fosse 1985, provavelmente sabe quem são os HAMMERFALL. Apesar de só ter começado a dar realmente que falar a meio da década de 90, a banda sueca já existe desde 1993 e, desde então, tem feito tudo para manter vivo o espírito que caracterizou a tendência durante os anos 80. Legítimos como poucos, começaram a tocar por puro divertimento e têm um lugar especial guardado no coração dos fanáticos do género. Além disso, são uma das bandas melhor sucedidas do boom power metal que começou a ganhar força na segunda metade dos anos 90 e que se afirmou rapidamente como um verdadeiro fenómeno. Os primeiros dois álbuns, em particular, podem não ser nenhum pináculo da revolução do som de peso, mas a forma como actualizaram uma sonoridade que pouca gente fazia na altura, e ninguém a este nível, provou que o estilo ainda podia apelar às massas se fosse abordado com a atitude certa. Ainda a ressacar da explosão grunge, não havia muitos músicos com cabelo comprido e calças de cabedal com tachas, a fazer solos rápidos e a cantar sobre fantasias medievais num registo agudo. O heavy metal sempre funcionou melhor quando agarrado aos elementos que o tornaram famoso e, nesse aspecto, estes músicos oriundos de Gotemburgo estão entre os mais consistentes da sua geração. Quase vinte anos depois, ainda conservam o mesmo apelo que tinham quando deram os primeiros passos, por isso se é de verdadeiro heavy metal que andam à procura, é precisamente o que vão encontrar pela frente quando os HAMMERFALL subirem ao palco do Hard Club, no Porto, num regresso há muito esperado do grupo a solo nacional.
Desde que lançaram «Glory To The Brave», em 1997, face a uma audiência insuspeita que nem sabia bem o que pensar deles, os HAMMERFALL cresceram e transformaram-se num dos bastiões da nova vaga de power metal à custa de muito trabalho e grandes temas. Por esta altura, já se percebeu que estão aí para ficar – sem nunca desapontarem, o que lhes tem permitido estabelecer uma carreira tão sólida como saudável. Tendo como pontos de apoio o trabalho de guitarra de Oscar Dronjak e a fantástica voz de Joacim Cans, o colectivo desenvolveu uma personalidade própria, facilmente reconhecível a quilómetros de distância. No entanto, a verdade é que o quinteto também soube sempre como surpreender o seu público – só o necessário, mas o suficiente para manter os níveis de interesse em alta. Seria difícil encontrar um melhor exemplo disso que a novidade «Infected», o oitavo álbum acabado de editar. Logo para começar – Hector, o guerreiro-mascote da banda, não aparece na capa; depois, a música também ganhou um tom um pouco mais negro. A magia acontece no momento em que se percebe que, em vez de terem ido beber à sua habitual fonte de inspiração, o power metal germânico, decidiram focar-se nos clássicos. Temas como «Immortalized» e «Patient Zero» misturam tudo o que fizeram até aqui com um renovado interesse no legado de nomes clássicos como Judas Priest ou Accept. As melodias orelhudas mantêm-se intocadas e as baladas estão no sítio certo, mas os temas soam mais poderosos que nunca. Goste-se muito ou pouco deles, os HAMMERFALL continuam a mostrar exactamente a mesma capacidade de escrever canções para serem entoadas em uníssono, excelentes harmonias vocais e solos de guitarra excepcionais, apoiados numa demolidora secção rítmica.
BIOGRAFIA HAMMERFALL
Formação:
Joacim Cans – voz
Oscar Dronjak – guitarra
Pontus Norgren – guitarra
Fredrik Larsson – baixo
Anders Johansson – bateria
Os HammerFall foram criados em Gotemburgo, na Suécia, pelo guitarrista Oscar Dronjak, corria o ano de 1993 e a primeira formação do grupo incluía elementos dos In Flames e Dark Tranquillity. Estávamos no início dos anos 90 e Jesper Strömblad era mais um metaleiro perdido na avalanche do grunge. Na ausência de bandas que fizessem a música que queria realmente ouvir, heavy/power metal enraizado na tradição estabelecida durante a década anterior, juntou-se a Dronjak, outro guitarrista na mesma situação, e, com a ajuda de Mikael Stanne, Niklas Sundin e Johan Larsson, deram vida ao projecto. Apenas pelo divertimento, segundo reza a lenda. A sofrer constantes mudanças de formação, o grupo viu-se forçado ao estatuto de side project e foi, já após a edição original do disco de estreia e do abandono de Strömblad, que as coisas começaram a acontecer realmente para o quinteto.
No início de 1997 foram abordados pela Nuclear Blast e «Glory To The Brave» foi lançado finalmente em toda a Europa, nos Estados Unidos e no Japão, provocando uma reacção inesperada – numa altura em que muita gente dizia que o heavy metal estava morto e o power tinha sido só uma fase, o álbum de estreia dos HammerFall chegou ao #38 da tabela de vendas alemã. Até ali, nunca nenhuma banda do género tinha chegado a um lugar tão alto com um disco de estreia e, no espaço de apenas um ano, já tinham feito extensas digressões no velho continente ao lado de bandas como os Gamma Ray, Jag Panzer, Raven e Lake Of Tears, incluindo uma passagem pelo Wacken Open Air, onde tocaram frente a mais de 10,000 pessoas. O disco acabaria por vender mais de 100.000 cópias e o grupo foi nomeado para um Grammy sueco na categoria de Best Hard Rock.
Em 1998, «Legacy Of Kings», o segundo longa-duração, cimentou-os como um dos porta-estandartes de um movimento que começava a emergir na Europa. Vistos como recuperadores da honestidade e das melodias que tornaram o estilo famoso mais de dez anos antes, continuaram a sua cruzada em nome do verdadeiro metal com o lançamento de «Renegade», em 2000, o disco provocou a transformação de uma banda underground num fenómeno mainstream no seu país de origem. Nesta altura, o grupo era composto por Dronjak, Joacim Cans na voz, Anders Johansson (ex-Rising Force) na bateria, Stefan Elmgren na segunda guitarra e Magnus Rosén no baixo.
«Crimson Thunder» foi editado em 2002, seguido de um álbum ao vivo e respectivo DVD. «One Crimson Night» foi gravado em Gotemburgo, numa sala totalmente esgotada – estavam em estado de graça. Surpreendentemente, o quinto álbum, apropriadamente intitulado «Chapter V: Unbent, Unbowed, Unbroken», chegou às lojas três anos depois e, numa altura em que já ninguém acreditava que fosse possível, viu-os crescerem ainda mais. A quarta digressão mundial foi um sucesso ainda maior que as anteriores, resultando na primeira tour norte-americana em nome próprio, depois de terem feito, em 1998 e 2002 respectivamente, rotas com os emblemáticos Death e Dio.
«Threshold», de 2007, manteve a banda na estrada e a tocar para plateias totalmente rendidas, mas essa tour de force acabou por dar origem à saída de Stefan e Magnus. «No Sacrifice, No Victory», de 2009, foi o primeiro registo dos “novos” HammerFall, agora com Pontus Norgren (ex-the Poodles) e Fredrik Larsson (ex-Evergrey) a trazerem a estabilidade instrumental necessária ao grupo. Foi precisamente essa solidez que surpreendeu os fãs em mais uma gigantesca digressão pelo planeta, desta vez com a primeira incursão pela Índia.
Sem tempo para paragens, no final do ano passado já estavam fechados no seu estúdio a trabalhar no oitavo registo de originais de um fundo de catálogo sem momentos pouco inspirados. Pela primeira vez sem a ajuda de Charlie Bauerfeind, que colaborou com os músicos em todos os discos anteriores, socorreram-se do norte-americano James Michael (que já trabalhou com os Scorpions e Mötley Crüe) e gravaram aquele que muita gente vê como o seu disco mais arrojado de sempre. «Infected», editado em Abril passado, entrou directamente para o #2 da tabela de vendas sueca e é mais uma prova de que, apesar de estarem mais maduros e um pouco diferentes, os HammerFall mantêm a mesma garra de sempre.
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