Nos últimos anos, a Polónia têm-se revelado terreno fértil no que à música pesada diz respeito e o movimento metal/rock progressivo local tem vindo lentamente a afirmar-se como um dos mais dignos sucessores da tradição britânica do género. Os RIVERSIDE estão já entre os mais dedicados e bem sucedidos discípulos das regras estabelecidas por clássicos do género como Pink Floyd, Marillion, Arena e Porcupine Tree, surpreendendo os apreciadores de prog a cada novo lançamento que assinam. Com a trilogia “Reality Dream” provaram uma capacidade inata para escrever música tão diversa quanto possível, alternando entre momentos mais leves – próprios do rock progressivo mais melódico – e outros mais negros e pesados, mais próximos do heavy metal. «Out Of Myself», o primeiro disco do grupo, foi visto pela imprensa como uma das mais auspiciosas estreias da última década dentro do estilo em que se movem à data da sua edição e, desde 2003, os músicos nunca pararam de superar-se a si próprios e de conduzir a sua vasta legião de seguidores por uma viagem extra-sensorial. Apostando em atmosferas mais luminosas nos primeiros álbuns, deram um passo no sentido da escuridão com «Rapid Eye Movement» e, surpreendentemente, acabaram mesmo por transformar-se num caso raro de sucesso no seu país natal fazendo a transição para o mainstream com o último «Anno Domini High Definition». É toda essa versatilidade, vontade de ir cada vez mais longe e uma destreza técnica digna de ser apreciada ao vivo com atenção redobrada que se espera do quarteto polaco, quando subir aos palcos do Santiago Alquimista (em Lisboa) e do Hard Club (no Porto) – nos dias 7 e 8 de Outubro, respectivamente.
Os RIVERSIDE nasceram em 2001 pelas mãos de Piotr Grudziński, Piotr Kozieradzki, Jacek Melnicki e Mariusz Duda – quatro experientes músicos polacos com uma paixão comum pelo rock progressivo e pelo heavy metal. Musicalmente melhor descritos como uma fusão de rock atmosférico com elementos de metal progressivo, vão beber influência às pedras basilares do género, mas também contam com bandas tão diversas como Dream Theater, Opeth, The Mars Volta e Tool na sua lista de referências. Seria, no entanto, uma injustiça descrever o projecto liderado pelo camaleónico Duda – senhor de uma das vozes mais emocionais, apaixonadas e, ocasionalmente, raivosas da sua geração – apenas como uma soma das influências dos seus elementos. O quarteto tem uma identidade própria bem vincada e foi isso que fez com que, ao longo da última década, tivesse estabelecido o seu nome entre as esperanças mais brilhantes de uma tendência que, graças a alguns dos grupos mencionados anteriormente e agora também aos RIVERSIDE, começa a ganhar mais e mais exposição entre os apreciadores de música pesada que não se limita apenas ao peso. Músicos muito talentosos e donos de uma excelência a nível técnico que não deixa ninguém indiferente, brilham em composições muito bem engendradas, apostando nas brilhantes linhas vocais e nas melodias memoráveis que servem de âncora a temas longos, mas que nunca se tornam aborrecidos. Um daqueles casos raros em que a proficiência extraordinária dos músicos não ofusca o trabalho de composição, servindo apenas a canção e a atmosfera que pretendem transmitir ao ouvinte.
BIOGRAFIA RIVERSIDE
Formação:
Mariusz Duda – Voz/baixo/guitarra acústica
Piotr Grudziński – Guitarra
Piotr Kozieradzki – Bateria
Michal Łapaj – Teclados
Corre a lenda que que a ideia que deu origem aos Riverside surgiu, em 2001, no momento em que, durante uma volta de carro, Piotr Kozieradzki mostrou alguns temas dos Marillion a Piotr Grudziński. Kozieradzki, baterista, já tinha alguma experiência acumulada em duas bandas de death metal – uma delas, os populares Hate – e Grudziński também não era propriamente estranho a estas andanças da música e das bandas, tendo tocado nos Unnamed durante dez anos. As outras coisas que ambos tinham em comum eram uma paixão especial pelo rock progressivo e a amizade com o teclista (produtor e dono do seu próprio estúdio) Jacek Melnicki. O trio decidiu então tentar a sua sorte na música progressiva e começou a escrever os primeiros temas, mas ainda lhes faltava um vocalista e um baixista para completarem o coletivo. Entra em cena Mariusz Duda, multi-instrumentista e cantor dos Xanadu, que revelou ser a peça que faltava para completar este puzzle.
A química entre os quatro músicos estabeleceu-se logo ao primeiro ensaio e, mais ou menos um ano depois de terem solidificado a formação, lançam uma maqueta e dão os primeiros concertos em Varsóvia, mas mantêm-se mais concentrados na composição do primeiro disco a sério do que propriamente nas atuações ao vivo. Já na reta final do processo de composição, o grupo vê-se a braços com o afastamento de Melnicki, apostado em prosseguir com a sua carreira como engenheiro de som. «Out Of Myself» é editado na Polónia no final de 2003 e revela-se de imediato um sucesso a nível local. Já com Michal Łapaj no lugar de teclista, o grupo começa a encher salas e chama a atenção da independente norte-americana Laser's Edge. O álbum é reeditado em Setembro de 2004 – com capa do reputado Travis Smith – e é recebido com aplausos, mas desta vez a uma escala um pouco maior. Nesse mesmo ano, lançam o EP «Voices In My Head» em exclusivo para o mercado polaco e tocam pela primeira vez fora do seu país natal, no festival Progpower na Holanda.
Sempre atenta ao que de mais interessante se vai fazendo no espectro do progressivo, a influente InsideOut agarrou a banda para o seu vasto catálogo e lançou «Second Life Syndrome» na reta final de 2005. O álbum transformou-se num sucesso – mantendo, até hoje, o lugar #62 na lista dos 100 melhores álbuns do género para os Prog Archives, tendo sido votado disco do ano quando foi editado – e foi seguido de perto pela reedição de «Voices In My Head» a nível mundial, mantendo-os em digressão e levando-os pela primeira vez aos Estados Unidos.
Depois de uma breve paragem para recuperar forças, os músicos começaram a trabalhar no terceiro longa-duração, o capítulo final do conceito “Reality Dream”. «Rapid Eye Movement» foi editado aproximadamente dois anos depois de «Second Life Syndrome», após terem feito uma tour europeia ao lado dos Dream Theater e terem visto a sua música exposta a uma audiência muito maior. Mariusz Duda, uma autêntica força da natureza, ainda arranjou tempo para gravar com o seu projeto Lunatic Soul, cuja estreia homónima foi lançada em 2008.
Seguiu-se mais um período de reflexão, composição e gravação, que deu origem a «Anno Domini High Definition» em Junho de 2009. Contra todas as expectativas, o álbum transformou-se num caso inédito de sucesso no país natal do grupo, ocupando o primeiro lugar da tabela de vendas na segunda semana em que esteve no mercado (a entrada deu-se para o #6) e atingindo níveis de reconhecimento que nenhuma banda de peso tinha atingido antes na Polónia. No ano em que comemoram uma década de existência, o quarteto decidiu gravar três inéditos para o EP «Memories In My Head», disponível apenas nos concertos e um prenúncio do que está para vir com o novo longa-duração, que tem edição marcada para 2012.
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