A música pesada tem muitas faces e as mais extremas ganharam uma expressão impressionante na última década do Séc. XX, atingindo níveis de popularidade até então estranhos ao som de peso underground. Impulsionado pelas fanzines, pelos programas em rádios "piratas" e pelo tape-trading, o boom criativo que se viveu durante a primeira metade dos anos 90 deixou marcas profundas, que perduram até hoje. A The Sign Of Hell Tour transporta até ao novo milénio dois dos expoentes máximos da velha guarda do metal extremo europeu e uma das mais brilhantes esperanças da nova geração de músicos apostados em abraçar a escuridão e cuspir cá para fora toda a maldade que têm dentro de si. Com a época natalícia mesmo a bater à porta, os GORGOROTH, VADER e VALKYRJA, a que se juntam mais duas bandas ainda por revelar, vão invocar o lado negro da força – no Hard Club e no Cine-Teatro de Corroios, a 13 e 14 de Dezembro.
Lendários por direito próprio, até porque poucas foram as bandas que provocaram tanta controvérsia pública ao longo dos anos, os GORGOROTH são uma das instituições do black metal norueguês criado nos anos 90. Os problemas com os tribunais, os escândalos sexuais, as histórias de violência, a atitude de desdém para com tudo e todos, as temporadas passadas na prisão, a volatilidade da formação e as querelas entre elementos do grupo são famosas. Talvez demasiado, porque paralelamente aos rumores, os factos confirmam que, durante os últimos (quase) vinte anos, o projecto liderado pelo enigmático Infernus soube exactamente como estabelecer uma reputação intocável e um fundo de catálogo invulgarmente sólido. Depois de uma actuação lendária no antigo Hard Club em 2005, os noruegueses voltam finalmente a Portugal – com uma formação bem diferente, mas que promete tanta blasfémia e atitude necro como sempre.
Não menos lendários, os VADER são um dos mais perseverantes exemplos de que, enquanto a chama do black metal florescia na Noruega, até nas mais remotas zonas da Europa crescia uma fulgurante cena death metal. A música extrema estava a nascer e o carismático Piotr Wiwczarek esteve entre os pioneiros, afirmando-se como uma das suas peças-centrais. A banda que lidera desde o início é, por si só, um pilar do género em que se move – posição conquistava à custa de muito trabalho, traduzida numa constante presença em palcos por esse mundo fora e por um fundo de catálogo que já conta com quase quatro dezenas de títulos. Oriundos de um país que, no início da década de 80, ainda vivia numa realidade totalmente diferente do resto da Europa, afirmaram-se desde cedo como uma das bandas mais esforçadas de que há memória no espectro da música extrema – em 2003, o ano em que comemoraram vinte anos de carreira, já tinham vendido mais de 500,000 discos em todo o mundo.
De criação bastante mais recente, os VALKYRJA conseguiram estabelecer o seu nome em apenas seis anos e sem grande dificuldade. Contando na sua formação com actuais e ex-elementos dos Ondskapt, um dos nomes mais respeitados no espectro do black metal ortodoxo, o quarteto de Estocolmo começou a dar que falar em 2007 com a edição da estreia «The Invocation Of Demise» e consequente contratação para o catálogo da lendária Metal Blade. «Contamination», de 2010, revelou ao mundo uma besta de black metal violento e pernicioso, afirmando-se como uma viagem mórbida por um mundo de insanidade pintado em tons escuros. Um dos álbuns mais impressionantes do ano passado, transposto para o palco em actuações descritas como "agressivas e brutais".
Os bilhetes para o concerto custam 20€, à venda nos seguintes locais: Ticketline (www.ticketline.sapo.pt - 1820), Lojas Fnac, Worten, MegaRede, Agências Abreu, C. C. Dolce Vita, El Corte Inglês, Galeria Comercial Campo Pequeno, Carbono (Lisboa), Carbono (Amadora), Break Point (Vigo) e nos locais.
Websites: www.myspace.com/gorgoroth // www.myspace.com/vader // www.myspace.com/valkyrjaswe
BIOGRAFIA GORGOROTH
Os Gorgoroth, cuja designação foi inspirada por JRR Tolkien e pela saga "O Senhor dos Anéis", foram criados pelo guitarrista Infernus em 1992. No ano seguinte, gravam a maqueta «A Sorcery Written In Blood» e começam, desde logo, a provocar controvérsia graças a um artigo, com o título "Música com simbolismo Satânico", publicado num jornal local. Com Samoth (dos Emperor) no baixo, a banda grava e edita a estreia «Pentagram» em 1994 e, contando com o talento de Frost (dos Satyricon) atrás do kit de bateria, dá os primeiros concertos. Aproveitando a embalagem, começam a trabalhar no segundo álbum; «Antichrist» foi editado e «Pentagram» reeditado pela Malicious Records em 1996, já depois de terem sofrido mais umas quantas mudanças de pessoal. A subsequente tour europeia – com os Satyricon e Dissection – estabeleceu-lhes a reputação e, quando «Under The Sign Of Hell» chegou aos escaparates em 1997, já eram uma das bandas de black metal norueguês mais respeitadas e temidas da sua geração.
Fazem então a primeira tour como cabeças de cartaz e assinam contrato com a Nuclear Blast, que lança o barulhento «Destroyer» no ano seguinte. A exposição permitiu-lhes saírem da sombra da competição e, apesar de constantes alterações de formação, encetam a fase mais produtiva da sua carreira. O vocalista Gaahl, que tinha gravado apenas o tema-título do disco anterior, começa a ganhar mais protagonismo graças à intensidade que empregava nas prestações ao vivo e Infernus introduz o grupo por um caminho mais experimental que dá origem a «Incipit Satan» em 2000. Já com King Ov Hell no lugar de baixista partem à conquista do velho continente ao lado dos Morbid Angel e, depois, com suporte dos Krisiun e Old Man's Child. O ano seguinte marcou a estreia nos Estados Unidos, no México e na Colômbia, assim como a participação num disco de homenagem aos Mayhem.
Em Fevereiro de 2002, já depois de ter gozado em liberdade um ano de prisão por actos de violência, Gaahl é preso por ter espancado e torturado um homem. O músico é julgado e condenado a nove meses de pena. Pela primeira vez, Infernus afasta-se do papel de principal compositor – o baixista King e o baterista Kvitrafn encarregam-se da escrita de grande parte de «Twilight Of The Idols», de 2003.
O retorno a uma sonoridade mais tradicional motiva o regresso aos palcos e, a 1 de Fevereiro de 2004, protagonizam um dos momentos mais controversos do seu percurso. Tendo como objectivo a gravação de um DVD, o grupo desloca-se a Cracóvia, na Polónia, e eleva consideravelmente os níveis de blasfémia e choque que já caracterizavam os seus concertos. Durante a actuação foram exibidos diversos símbolos satânicos, cabeças de carneiro espetadas em estacas e quatro modelos nus crucificados em palco... Já para não falar do banho de sangue – alegadamente foram usados 80 litros de sangue de carneiro em pouco mais de uma hora de actuação. A ousadia deu origem a uma investigação por parte da polícia local, com a banda sob suspeita de ofensa à religião (um crime punível segundo a lei polaca) e crueldade para com os animais. Acabaram por nem sequer ir a tribunal, sendo provado que os músicos não estavam cientes de estar a fazer algo ilegal. As filmagens foram confiscadas e a exposição mediática do caso foi enorme, reforçando a ideia de que os Gorgoroth continuavam a ser uma banda verdadeiramente perigosa – provaram-no em digressões esgotadas pela América Central e do Sul, assim como pela Europa.
No entanto, o incidente viu-os serem abandonados pela Nuclear Blast e, só em 2006, é que «Ad Majorem Sathanas Gloriam» foi disponibilizado pela Regain Records – «Black Mass Krakow 2004», por seu lado, só seria editado em 2008. Se na década anterior tinham revelado uma produtividade incrível (duas maquetas, cinco álbuns e um EP em sete anos), o crescimento acabou por reduzir o fluxo de edições e, pouco depois da edição do sétimo longa-duração e alguns anos de estabilidade, o grupo começa de novo a desmembrar-se. Os Gorgoroth só voltam aos palcos no Verão de 2007 e estes seriam os últimos concertos de King e Gaahl ao lado de Infernus. O que se seguiu foi uma infindável troca de insultos entre as duas partes e uma longa batalha legal pelos direitos do nome Gorgoroth, que acabou por dar origem a duas versões diferentes da banda até que, em 2009, o tribunal decidiu que quem tinha direito a usufruir da designação era o guitarrista e elemento fundador.
Infernus começou então a trabalhar no material que estava a desenvolver antes de ser preso, reformulou a banda (com os regressados Tormentor e Pest na guitarra e voz respectivamente, Frank Watkins, dos Obituary, no baixo e Tomas Asklund na bateria). Foi essa a formação que trouxe o grupo de volta aos palcos depois de mais de dois anos de silêncio e que gravou «Quantos Possunt Ad Satanitatem Trahunt». Marcadamente mais old school na abordagem, o disco de 2009 reuniu consenso e reparou-lhes a integridade quase por completo. Além de diversas digressões pelo globo, o quinteto ainda tocou em alguns dos maiores festivais de Verão dentro do género e provou que estava de volta e cheio de força.
BIOGRAFIA VADER
Os Vader, cuja designação foi inspirada no personagem Darth Vader da saga «Guerra das Estrelas", foram criados no Outono de 1983 por Piotr "Peter" Wiwczarek e Zbyszek "Vika" Wroblewski e, oriundos de um país que na altura ainda vivia numa realidade totalmente diferente do resto da Europa, afirmaram-se desde cedo como uma das bandas mais trabalhadoras e esforçadas de que há memória no espectro da música extrema. Já com duas maquetas na bagagem, a banda começou a dar que falar pela primeira vez com a terceira – «Morbid Reich», de 1990, vendeu quase 10,000 cópias. Um feito inédito na época, que lhes valeu a atenção da Earache e o lançamento de «The Ultimate Incantation» (depois de uma sessão de gravação abortada nos famosos estúdios Sunlight) em 1993. Falhas de comunicação ditaram a ruptura entre os músicos e a editora independente britânica, sendo que os polacos só viriam a conseguir uma estabilidade editorial digna de registo alguns anos depois.
Em 1994 assinaram «Sothis» e «The Darkest Age: Live '93» através de dois selos diferentes e mantiveram-se incessantemente na estrada, com a pequena Impact Records a disponibilizar, entre 1995 e 1998, «De Profundis», o disco de versões «Future Of The Past», «Black To The Blind», o EP «Kingdom», «Live In Fapan» e a VHS «Vision And Voice». Entretanto a Hammerheart Records já tinha reeditado as maquetas «Necrolust» e «Morbid Reich» com o título «Reborn In Chaos» e os Vader já tinham concretizado um dos seus maiores sonhos ao abrir um espectáculo dos Slayer na Polónia. Já na recta final de 1998 assinam o tão desejado contrato com uma editora maior, a Metal Blade. A banda parte em digressão novamente pela Europa e estreia-se nos Estados Unidos, garantindo também a inclusão no cartaz de diversos festivais no velho continente e culminando numa tour ao lado dos Testament. «Litany» chega às lojas em 2000 e, apostados em ser um dos poucos grupos de death metal a ganhar a vida com a música que tocam, nunca pararam de batalhar durante a década seguinte.
Constantemente em digressão, à medida de 200 espectáculos por ano, estabeleceram-se como uma força a ter em conta e como uma verdadeira máquina de guerra, muito bem oleada e que não se detém perante quaisquer percalços que lhes possam surgir no caminho. Entre 2001 e 2011, apesar das ocasionais mudanças de formação, do afastamento e posterior morte do lendário baterista Doc e das dezenas de tours (incluindo a de comemoração do 25.º aniversário em 2008), o colectivo ainda arranjou tempo para gravar o EP «Reign Forever World» (em 2001), «Revelations» (em 2002), o EP «Blood» (em 2003), «The Beast» (em 2004), o EP «The Art Of War» (em 2005), «Impressions In Blood» (em 2006), o EP «Lead Us!!!» (em 2008) e «Necropolis» (em 2009). Entretanto tinham passado da Metal Blade para a Regain Records e, depois, para a Nuclear Blast – além de um dos mais bem sucedidos, os Vader também são um dos nomes mais cobiçados da sua geração pelas editoras de maior porte no espectro da música pesada.
Esta última troca de selo acabou por marcar igualmente o começo de uma nova era no percurso do grupo, depois de um período de reflexão, com uma formação rejuvenescida e com um Piotr sempre em forma e cheio de entusiasmo agarrado ao leme, a lendária banda entrou na segunda década do Séc. XXI com um vigor que faria corar muitos grupos com metade dos anos e da experiência. A melhor prova possível da sua vitalidade é o novíssimo «Welcome To The Morbid Reich», o nono longa-duração acabado de editar e recebido com aplausos unânimes um pouco por todo o lado.
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